ENTRE O SONHO E
A REALIDADE: EDUCAÇÃO X CAPITAL
Na
contemporaneidade a ideologia capitalista e, por tanto, utilitarista, necessita
de professores eucaliptos, temos formações aligeiradas, que visam atender as
necessidades do mercado. O sistema capitalista por si só, elenca uma gama de
conceitos e demandas que competem, no contexto educacional, apenas aos
professores eucaliptos.
Existe
a necessidade de manipular a massa, de forma eficaz, não eficiente. Por isso,
se fazem necessárias modalidades e metodologias educativas que conseguem
disseminar conhecimento de forma rápida e para uma grande quantidade de
indivíduos.
Não
se pode ser jequitibá em um sistema que visa sustentar a diferença
socioeconômica, rankeamento de
indivíduos, seleção. É disso que o sistema educacional se trata. Uma
metodologia criada com base em regras, onde os melhores se sobressaem e o
restante passa a ser massa de manobra.
O
sistema educacional nada mais é que um pilar que sustenta o sistema
capitalista. O conhecimento passa a ser uma mercadoria, assim como a força de
trabalho e o produto final em uma indústria. É uma trajetória praticamente
obrigatória se o indivíduo não deseja ficar à margem do sistema, justamente por
embasar o sistema vigente.
Seguindo
essa linha de raciocínio, não existiriam, então, bons professores? Não. Existem
bons professores sim, dentro do que se pode determinar como “bom”, na lógica
capitalista. Metaforicamente falando, um eucalipto de dois metros é melhor do
que um eucalipto de um metro e meio, apesar de ainda ser um eucalipto.
Talvez
de fato existam muitos professores sedentos por uma mudança, uma evolução do
sistema educacional e social, seriam eles os jequitibás adormecidos. Porém, em
ação, estes não muito se diferem dos demais, porque apesar de sentir a
necessidade de uma mudança, continuam parte do sistema, dançando conforme a
melodia ideológica irresistível.
O
sistema educacional não comporta revolucionários de fato. Não é permitido ser
um jequitibá. Resta então aos professores a manutenção do conflito ideológico
antagônico em relação as suas ações, presos em suas funções e títulos, buscando
exercer seus papéis da melhor maneira possível, dentro de suas limitações.
É
possível sim realizar um bom trabalho, mas tudo conforme o sistema ideológico
permite. Realizar um bom trabalho é fazer com que o indivíduo seja, dentre
outros, capaz de atuar enquanto cidadão, ter um bom emprego, continuar sua
carreira acadêmica. Parece belo, a lógica natural da vida, mas são todas
ascensões almejadas devido à construção ideológica capitalista. Ou seja, um bom
professor é aquele que, mesmo sem querer, engloba o indivíduo ao sistema
capitalista.
O
filme “Escritores da Liberdade” traz a o exemplo de uma professora, dentre
muitos professores, que conseguiu reformular a mentalidade de alguns alunos,
dentre milhões deles. É um filme motivador para diversos professores, por
mostrar uma professora, aparentemente comum, que conseguiu realizar grandes
feitos, com alguns alunos, apelando um pouco para a utopia construtiva do
sistema educacional.
Vale
ressaltar que, no filme, o maior obstáculo enfrentado pela Senhora G., como era
chamada a personagem, é o próprio sistema, personificado no governo e na
direção, que embargavam suas tentativas de propiciar alguma mudança, alguma
melhora para os alunos.
Não
se deve confundir o embargo apresentado no filme, com o que muitos professores
vivenciam que é o aqui descrito. Apesar de ser o caso muitas vezes, não se
trata de infraestrutura. Trata-se da problemática ideológica intrínseca dos
seres humanos, atualmente.
Enquanto
profissional e aplicando a lógica descrita, é inevitável não me colocar no
papel de eucalipto. Entretanto, tenho me esforçado para, ao menos, ser uma boa
personificação dessa metáfora. Talvez um dia eu consiga exercer,
metaforicamente, as funções de um eucalipto de cinco metros, propiciando aos
meus alunos capacidade de seguir
sonhando e acreditando na educação.
Apesar
da afirmação utópica idealizando uma suposta mudança da mentalidade vigente ao
cursar essa especialização, é muito mais plausível que, ao cursar, minha
percepção da realidade seja aguçada. Ou seja, a especialização me auxiliou a
notar aspectos negativos da realidade de ser professor. Embora seja difícil
lidar com esses aspectos negativos, quanto mais desmistificado estiver o
sistema, melhor lidaremos com ele.
Com
o sistema capitalista, os professores se limitam a assumir a identidade
metafórica de eucaliptos, fazendo seu trabalho e incluindo os indivíduos ao
sistema. Não é possível que se tornem jequitibás, não dentro da sistemática
capitalista, cabendo a eles, pelo menos, tentarem ser um “bom eucalipto”,
cumprindo a maioria das ordens estabelecidas pela estrutura educacional.
Na
realidade em que vivemos se faz necessário muito mais do que belas palavras. Os
sonhos devem se traduzir em ações, que mobilizam, articulam os sujeitos para
transformação. Porém sabemos que há um limite, o sonho torna-se a ausência da
lógica capitalista inevitável, torna-se utopia. Entretanto, isso não significa
que não haja sentido em buscar esse sonho, afinal de contas, todo ser humano
precisa de uma utopia, seja ela um deus ou um sistema.