terça-feira, 21 de agosto de 2012

ENTRE O SONHO E A REALIDADE: EDUCAÇÃO X CAPITAL


ENTRE O SONHO E A REALIDADE: EDUCAÇÃO X CAPITAL


Na contemporaneidade a ideologia capitalista e, por tanto, utilitarista, necessita de professores eucaliptos, temos formações aligeiradas, que visam atender as necessidades do mercado. O sistema capitalista por si só, elenca uma gama de conceitos e demandas que competem, no contexto educacional, apenas aos professores eucaliptos.
Existe a necessidade de manipular a massa, de forma eficaz, não eficiente. Por isso, se fazem necessárias modalidades e metodologias educativas que conseguem disseminar conhecimento de forma rápida e para uma grande quantidade de indivíduos.
Não se pode ser jequitibá em um sistema que visa sustentar a diferença socioeconômica, rankeamento de indivíduos, seleção. É disso que o sistema educacional se trata. Uma metodologia criada com base em regras, onde os melhores se sobressaem e o restante passa a ser massa de manobra.
O sistema educacional nada mais é que um pilar que sustenta o sistema capitalista. O conhecimento passa a ser uma mercadoria, assim como a força de trabalho e o produto final em uma indústria. É uma trajetória praticamente obrigatória se o indivíduo não deseja ficar à margem do sistema, justamente por embasar o sistema vigente.
Seguindo essa linha de raciocínio, não existiriam, então, bons professores? Não. Existem bons professores sim, dentro do que se pode determinar como “bom”, na lógica capitalista. Metaforicamente falando, um eucalipto de dois metros é melhor do que um eucalipto de um metro e meio, apesar de ainda ser um eucalipto.
Talvez de fato existam muitos professores sedentos por uma mudança, uma evolução do sistema educacional e social, seriam eles os jequitibás adormecidos. Porém, em ação, estes não muito se diferem dos demais, porque apesar de sentir a necessidade de uma mudança, continuam parte do sistema, dançando conforme a melodia ideológica irresistível.
O sistema educacional não comporta revolucionários de fato. Não é permitido ser um jequitibá. Resta então aos professores a manutenção do conflito ideológico antagônico em relação as suas ações, presos em suas funções e títulos, buscando exercer seus papéis da melhor maneira possível, dentro de suas limitações.
É possível sim realizar um bom trabalho, mas tudo conforme o sistema ideológico permite. Realizar um bom trabalho é fazer com que o indivíduo seja, dentre outros, capaz de atuar enquanto cidadão, ter um bom emprego, continuar sua carreira acadêmica. Parece belo, a lógica natural da vida, mas são todas ascensões almejadas devido à construção ideológica capitalista. Ou seja, um bom professor é aquele que, mesmo sem querer, engloba o indivíduo ao sistema capitalista.
O filme “Escritores da Liberdade” traz a o exemplo de uma professora, dentre muitos professores, que conseguiu reformular a mentalidade de alguns alunos, dentre milhões deles. É um filme motivador para diversos professores, por mostrar uma professora, aparentemente comum, que conseguiu realizar grandes feitos, com alguns alunos, apelando um pouco para a utopia construtiva do sistema educacional.
Vale ressaltar que, no filme, o maior obstáculo enfrentado pela Senhora G., como era chamada a personagem, é o próprio sistema, personificado no governo e na direção, que embargavam suas tentativas de propiciar alguma mudança, alguma melhora para os alunos.
Não se deve confundir o embargo apresentado no filme, com o que muitos professores vivenciam que é o aqui descrito. Apesar de ser o caso muitas vezes, não se trata de infraestrutura. Trata-se da problemática ideológica intrínseca dos seres humanos, atualmente.
Enquanto profissional e aplicando a lógica descrita, é inevitável não me colocar no papel de eucalipto. Entretanto, tenho me esforçado para, ao menos, ser uma boa personificação dessa metáfora. Talvez um dia eu consiga exercer, metaforicamente, as funções de um eucalipto de cinco metros, propiciando aos meus alunos  capacidade de seguir sonhando e acreditando na educação.
Apesar da afirmação utópica idealizando uma suposta mudança da mentalidade vigente ao cursar essa especialização, é muito mais plausível que, ao cursar, minha percepção da realidade seja aguçada. Ou seja, a especialização me auxiliou a notar aspectos negativos da realidade de ser professor. Embora seja difícil lidar com esses aspectos negativos, quanto mais desmistificado estiver o sistema, melhor lidaremos com ele.
Com o sistema capitalista, os professores se limitam a assumir a identidade metafórica de eucaliptos, fazendo seu trabalho e incluindo os indivíduos ao sistema. Não é possível que se tornem jequitibás, não dentro da sistemática capitalista, cabendo a eles, pelo menos, tentarem ser um “bom eucalipto”, cumprindo a maioria das ordens estabelecidas pela estrutura educacional.
Na realidade em que vivemos se faz necessário muito mais do que belas palavras. Os sonhos devem se traduzir em ações, que mobilizam, articulam os sujeitos para transformação. Porém sabemos que há um limite, o sonho torna-se a ausência da lógica capitalista inevitável, torna-se utopia. Entretanto, isso não significa que não haja sentido em buscar esse sonho, afinal de contas, todo ser humano precisa de uma utopia, seja ela um deus ou um sistema.

sábado, 16 de julho de 2011

A Escola sem alunos é igual a cemitério


A escola sem alunos é como um grande cemitério, onde impera a saudade do movimento, da fala e do sorriso de quem é vivo.
Quem começa a se alegrar por ver a escola vazia, observe melhor!
 Qual a razão de ser educador se não gosta de crianças, adolescentes e jovens com a sua profusão de vida, descobertas e uma necessidade de se impor no mundo, assim como a maioria de nós  já o fez.
Será que vale a pena ser mercenário de algo que te provoca repulsa, raiva, gastrite,úlceras e tantas outras coisas.
É certo que todas as profissões tem o seu tendão de aquiles, mas na educação não pode ser o aluno. Ele é a matéria-prima preciosa, que torna necessária a nossa função.
Não vale dizer eu não sou educador, sou professor(a), educar é responsabilidade da família não minha. Doce ilusão, hoje todos que estão dentro da escola são educadores, o professor mais ainda. Vivemos uma nova forma de organização familiar e social.Quem se prende a ser professor(a) conteudista pode acabar se frustrando.
E o saudosismo do passado não vai resolver os nossos problemas atuais, dizer que no meu tempo de escola era tudo diferente, os alunos eram mais comportados não é em absoluto verdade, apenas se tinha mais medo era a relação baseada no autoritarismo que gera o medo e não na autoridade que impõe limites mas respeita o outro como sujeito.
Que bom que a escola vai novamente se encher de vida, teremos mais um segundo semestre cheio de desafios. Teremos grandes batalhas, algumas derrotas e outras tantas vitórias que fazem valer a pena esse trabalho. 

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Quando a escola é de vidro...

Por: Ruth Rocha

Naquele tempo eu até achava natural que as coisas fossem daquele jeito. Eu nem desconfiava que existissem lugares muito diferentes... Eu ia para escola todos os dias de manhã e quando chegava, logo, logo, eu tinha que me meter no vidro. É, no vidro! Cada menino ou menina tinha um vidro e o vidro não dependia de cada um, não! O vidro dependia da classe que a gente estudava. Se você está no primeiro ano ganhava o vidro de um tamanho. Se você fosse do segundo ano seu vidro era um pouquinho maior. E assim, os vidros iam crescendo á medida em que você ia passando de ano. Se não passasse de ano era um horror. Você tinha que usar o mesmo vidro do ano passado. Coubesse ou não coubesse. Aliás nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros. E pra falar a verdade, ninguém cabia direito. Uns eram muito gordos, outros eram muito grandes, uns eram pequenos e ficavam afundados no vidro, nem assim era confortável. Os muito altos de repente se esticavam e as tampas dos vidros saltavam longe, ás vezes até batiam no professor. Ele ficava louco da vida e atarrachava a tampa com força, que era pra não sair mais. A gente não escutava direito o que os professores diziam, os professores não entendiam o que a gente falava... As meninas ganhavam uns vidros menores que os meninos. Ninguém queria saber se elas estavam crescendo depressa, se estavam respirando direito... A gente só podia respirar direito na hora do recreio ou na aula de educação física. Mas aí a gente já estava desesperado, de tanto ficar preso e começava a correr, a gritar, a bater uns nos outros. As meninas, coitadas, nem tiravam os vidros no recreio. E na aula de educação física elas ficavam atrapalhadas, não estavam acostumadas e ficavam livres, não tinha jeito nenhum para Educação Física. Dizem , nem sei se é verdade, que muitas meninas usavam vidros até em casa. E alguns meninos também. Estes eram os mais tristes de todos. Nunca sabiam inventar brincadeiras, não davam risada á toa, uma tristeza! Se a gente reclamava? Alguns reclamavam. E então os grandes diziam que sempre tinha sido assim; ia ser assim o resto da vida. Uma professora, que eu tinha, dizia que ela sempre tinha usado o vidro, até pra dormir, por isso que ela tinha boa postura. Uma vez um colega meu disse pra professora que existem lugares onde as escolas não usam vidro nenhum, e as crianças podem crescer a vontade. Então a professora respondeu que era mentira, que isso era conversa de comunistas. Ou até coisa pior... Tinha menino que tinha até que sair da escola porque não havia jeito de se acomodar nos vidros. E tinha uns que mesmo quando saíam dos vidros ficavam do mesmo jeitinho, meio encolhidos, como se estivessem tão acostumados que até estranhavam sair dos vidros. Mas uma vez, veio pra escola um menino favelado, carente, essas coisas que as pessoas dizem para não dizer que é pobre. Aí não tinha vidro pra botar esse menino. Então os professores acharam que não fazia mal não, já que ele não pagava a escola mesmo... Então o Firuli, ele se chamava Firuli, começou a assistir aulas sem estar dentro do vidro. O engraçado é que o Firuli desenhava melhor que qualquer um, respondia perguntas mais depressa que os outros, o Firuli era muito mais engraçado... E os professores não gostavam nada disso... Afinal, o Firuli podia ser um mal exemplo pra nós... E nós morríamos de inveja dele, que ficava no bem-bom, de perna esticada, quando queria ele espreguiçava, e até mesmo que gozava a cara da gente que vivia preso. Então um dia um menino da minha classe falou que também não queria entrar no vidro. Dona Demência ficou furiosa, deu um coque nele e ele acabou tendo que se meter no vidro, como qualquer um. Mas no dia seguinte duas meninas resolveram que não iam entrar nos vidros também: - Se o Firuli pode porque é que nós não podemos? Mas Dona Demência não era sopa. Deu um coque em cada uma, e lá se foram elas, cada uma pro seu vidro... Já no outro dia a coisa tinha engrossado. Já tinha oito meninos que não queriam saber de entrar nos vidros. Dona Demência perdeu a paciência e mandou chamar seu Hermenegildo que era o diretor lá da escola. Seu Hermenegildo chegou muito desconfiado: - Aposto que essa rebelião foi fomentada pelo Firuli. É um perigo esse tipo de gente aqui na escola. Um perigo! A gente não sabia o que é que queria dizer fomentada, mas entendeu muito bem que ele estava falando mal do Firuli. E seu Hermenegildo não conversou mais. Começou a pegar os meninos um por um e enfiar a força dentro dos vidros. Mas nós estávamos loucos para sair também, e pra cada um que ele conseguia enfiar dentro do vidro - já tinha dois dora. E todo mundo começou a correr do seu Hermenegildo, que era para ele não pegar a gente, e na correria começamos a derrubar os vidros. E quebramos um vidro depois outro e outro mas Dona Demência já estava na janela gritando: - Socorro! Vândalos! Bárbaros! (pra ela bárbaro era xingação) Chamem o bombeiro, o exército da Salvação, a Polícia Feminina... Os professores das outras classes mandaram cada um, um aluno pra ver o que estava acontecendo. E quando os alunos voltaram e contaram o que estava acontecendo na sexta série todo mundo ficou assanhado e começou a sair dos vidros. Na pressa de sair começaram a esbarrar uns nos outros e os vidros começaram a cair e a quebrar. Foi um custo botar ordem na escola e o diretor achou melhor mandar todo mundo pra casa, que era pra pensar num castigo bem grande, pro dia seguinte. Então eles descobriram que a maior parte dos vidros estava quebrada e que ia ficar muito caro pra arrumar aquela vidraria tudo de novo. Então depois disso seu Hermenegildo  pensou um bocadinho, e começou a contar pra todo mundo que em outros lugares tinham umas escolas que não usavam vidros nem nada, e que dava bem certo, as crianças gostavam muito mais. E que de agora em diante ia ser assim: nada de vidro, cada um podia se esticar um bocadinho, não precisava ficar duro nem nada, e que a escola agora ia se chamar Escola Experimental. Dona Demência que apesar do nome não era louca nem nada, ainda disse timidamente: - Mas seu Hermenegildo, Escola Experimental não é bem isso... Seu Hermenegildo não se perturbou: - Não tem importância. A gente começa experimentando isso. Depois a gente experimenta outras coisas... E foi assim que na minha terra começaram a aparecer as Escolas Experimentais. Depois aconteceram muitas coisas, que um dia vou contar...

terça-feira, 12 de julho de 2011

Experiência?

Eu não quero a experiência, se isso significar a arrogância de tudo saber.
Eu não quero a experiência se isso significar comodismo.
 Eu não quero a experiência se isso se traduzir em medo de novas ideias .
 Eu não quero a experiência que anule a minha possibilidade de superar limites.
 Eu não quero a experiência se isso significar a amargura no olhar,no falar e no trato com o meu semelhante.
 Eu não quero experiência se isso me fizer abandonar as minhas convicções de sujeito em constante formação e transformação.
Eu quero continuar inexperiente, quero entrar na sala de aula a cada novo ano com o propósito de desenvolver um trabalho conjunto. Não quero jamais ser arrogante e deixar o meu aluno na condição de inferior. Eu posso ter mais escolarização tendo muitas coisas a ensinar porém há muitas coisas que posso aprender com eles.